3. Josyara e Giovani Cidreira – Estreite

Capa do disco "Estreite"
Capa: Alexis Baldomá

“Bahia, minha preta / como será / se tua seta acerta o caminho e chega lá?”. Os versos, compostos por Caetano e lançados por Gal no início dos anos 90 se encontram com o nascimento de Giovani Cidreira (1990) e Josyara (1991). E os dois respondem juntos – em trabalhos solo ou agora, com “Estreite”, álbum com lançamento no dia 27 de março -, à pergunta lançada e cantada por seus conterrâneos. “Estreite” ecoa, sim, as Bahias dos dois jovens cantores e compositores baianos, mas numa seta que encontra o mundo – e chega lá. Preta, aguda e feminina, como a terra de origem dos dois artistas, a canção de Giovani e de Josyara – sempre em composições solo, embora transpirando influências mútuas – emula uma Bahia mítica que reduz tempo e espaços para promover encontros sem fronteiras.

É a aproximação da melancolia eletrificada de Giovani ao êxtase percussivo de Josyara. O violão furioso, e tão único da artista de Juazeiro, tocando o canto confessional, ora íntimo, ora explosivo, do soteropolitano. Tudo temperado por timbres & distorções & versos que se confundem entre a obra de um e de outro.

Entre fala direta e canto ralentado, “Palma” abre o álbum sinalizando o pé na porta da dupla: “Se esse é o jeito desse mundo eu tô no meu direito”. Com vozes entrelaçadas, a composição de Giovani é a síntese do estreitamento da sua música com a de Josyara. “Molha” (Josyara), a segunda canção do disco, traz a poesia de Josyara em enredo sensual: “Você vai chover no deserto dos meus olhos / E se vai chover / Molho”. Os acordes que fazem cama durante toda a gravação parecem emular um berimbau, enquanto a voz de Josyara vai se somando em camadas, entremeada pela dobra da voz de Giovani.

“Meninas irmãs parte I” surge ruidosa, evocando o oriente em sua melodia, enquanto Giovani, autor da canção, imprime canto ritualístico, quase mântrico. Na sequência, “Estreite”, faixa título, é símbolo da “mansidão furiosa” do violão de Josyara, aqui com timbres e reverbs que ampliam seu alcance. Na canção, o canto conjunto da dupla sinaliza o desejo dos versos: “Eu pedi pra você ficar / que bom que me ouviu / agora larguemos o que for ruim / nas ruas largas / estreitar as vias / como quem esquenta as veias”. O amor e a cidade se misturam, o amor e a política, o amor e o tempo hoje.

“Meninas Irmãs parte II”, mais uma composição de Giovani, irrompe a delicadeza da faixa anterior com tensão timbrística. Por entre um ritmo frenético, nervoso, a voz de Giovani surge inicialmente melodiosa até virar grito seco, evocando em menos de dois minutos alguns dos momentos mais experimentais em sua trajetória. “Anos incríveis” abre com a força dos versos: “Toda foda é justa / quando existe o coração”, enquanto as vozes se misturam melancolicamente, em outra composição do artista baiano.

O fogo otimista de Josyara ressurge suingado em “Virá”, canção-grito que entoa desejos desses trópicos do sul. Com uma urgência solar, “Há de nascer o que for bom / no horizonte do querer / basta mover montanhas / vulcões em atividade no centro de cada ser”. Na saída, “Farol” ilumina uma das influências mais translúcidas do artista, reverberando Clube da Esquina e toda a densidade das composições de Giovani.

Produzido por Junix 11, o álbum desorienta a escuta, traçando um caminho sonoro muito próprio, e atravessando territórios diversos. Atmosférico, o disco ressoa futuro, interior, suingue e ruídos em um mesmo pote. Cinematográfico, “Estreite” parece refletir o branco de um Abaeté de 2050, enquanto se colore de psicodelia setentista. Vai e vem sem receios, sobrepondo camadas de sintetizadores às vozes tão encaixadas de Giovani e Josyara, formando uma galeria de ideias, sons e principalmente possibilidades. 

 

FICHA TÉCNICA

Produção musical e arranjos: Junix 11
Mixagem: Marco Agrippa
Masterização: Felipe Tichauer
Produção executiva: Gatha e Silvana Ramalhete
Fotos divulgação: Julia Rodrigues
Capa/Designer: Alexis Baldomá
Gravado entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020

Produtor Cultural Oi Futuro: Yuri Chamusca
Técnico Oi Futuro: Raphael Fernandes

Joia ao Vivo
Curadoria: DJ Zé Pedro e Marcio Debellian
Produção executiva: Daniel Nogueira e Marcio Debellian
Realização: Debê Produções e Joia Moderna
Projeto gráfico: Pedro Colombo

> Ouça em outras plataformas <

Scroll Up